Da Euforia ao Pânico (e Vice-Versa): Por Que Seu Plano de Investimentos Deve Ignorar Ambos
Investimento sob um novo viés: o seu!
O pêndulo emocional do investidor brasileiro
Há exatos seis meses, publiquei um artigo intitulado "Pare agora de ser um trader de notícias". Naquele momento, o mercado estava em pânico. Manchetes catastróficas sobre mudanças tributárias para fundos imobiliários inundavam os portais financeiros, gerando uma onda de vendas precipitadas.
Lembro-me claramente de receber ligações desesperadas de clientes querendo liquidar posições "antes que fosse tarde demais". O pessimismo era tão palpável que eu praticamente podia sentir seu cheiro pela linha telefônica.
Hoje, apenas meio ano depois, contemplo um cenário completamente inverso.
Nos últimos dias tenho visto um otimismo acima do normal – não apenas entre investidores pessoas físicas, mas principalmente entre institucionais. Conversando com profissionais do mercado, a sensação é de euforia por potenciais mudanças no campo político que poderiam refletir positivamente na economia. "Temos visto no Brazilian Week 2025, em Nova York, um cenário que nos deixa otimistas", relatam entusiasticamente pessoas que participaram do evento.
O mesmo investidor que queria vender tudo há seis meses agora me pergunta se não deveria "aproveitar o momento" e aumentar drasticamente sua exposição a ativos de risco.
O Brasil continua sendo o mesmo país. Apenas o humor do mercado mudou.
O perigo do otimismo (é o mesmo do pessimismo)
Assim como alertei sobre os perigos do pessimismo exagerado em janeiro, hoje venho alertar sobre os riscos do otimismo desmedido.
Particularmente, acho sempre temeroso fazermos investimentos baseados em potenciais mudanças políticas. A política é, por natureza, imprevisível. Sim, existe a possibilidade de uma valorização generalizada dos ativos brasileiros – títulos públicos, ações, FIIs, FIPs – mas também existe o risco de decepção e reversão abrupta.
Morgan Housel, que citei no artigo anterior sobre o pessimismo vender mais, também tem uma observação interessante sobre o otimismo: ele tende a nos fazer subestimar riscos e superestimar nosso controle sobre os resultados.
Se o pessimismo nos paralisa, o otimismo nos cega.
A festa que você sempre chega na hora errada
Imagine uma festa. Quando as notícias são ruins, você espera do lado de fora, receoso. Quando finalmente ouve que a festa está bombando, você entra – exatamente quando ela começa a esfriar. Frustrado, vai embora – justamente quando a festa está prestes a esquentar novamente.
Esta é precisamente a experiência da maioria dos investidores no mercado financeiro. Na busca pelo "momento perfeito", acabam sistematicamente entrando tarde e saindo cedo, perseguindo uma ilusão que raramente se materializa.
E os dados confirmam isso:
Enquanto o índice S&P 500 rendeu 10,16% ao ano entre 1987 e 2016 (multiplicando o capital por 18 vezes), o investidor médio em fundos de ações obteve apenas 3,98% (multiplicando por apenas 3 vezes).
A diferença principal? Não foram taxas ou custos. Foi o comportamento do próprio investidor, entrando e saindo do mercado em momentos inoportunos, perseguindo performance passada, reagindo emocionalmente às manchetes.
Investidor, aprenda uma coisa. A mensagem é dura: mas voce é o maior inimigo do futuro dos seus sonhos.
Alta recente não significa "caro": O caso dos FIIs em 2025
Um equívoco comum é pensar que, se um ativo subiu, ele automaticamente se tornou caro. Este raciocínio superficial ignora métricas fundamentais e o contexto mais amplo de avaliação.
Vamos analisar o caso dos Fundos Imobiliários (FIIs) no Brasil:
O IFIX (índice de fundos imobiliários) teve um primeiro semestre bastante positivo em 2025, levando muitos a questionarem: "Agora que subiu, ficou caro demais para entrar?"
A resposta clara é: não necessariamente. E aqui está o porquê.
O indicador P/VP nos conta uma história diferente
Se analisarmos o indicador P/VP (Preço sobre Valor Patrimonial) dos principais segmentos de FIIs, percebemos algo revelador:
FIIs de Lajes Corporativas: Atualmente negociam com P/VP em torno de 0,55, muito abaixo do auge histórico que chegou a 1,15 em 2019/2020
FIIs de Recebíveis: Negociam com P/VP próximo a 0,90, enquanto já atingiram patamares de 1,15 no passado
FIIs Logísticos: Mesmo após a valorização recente, estão com P/VP aproximado de 0,75, contra picos históricos acima de 1,20
FIIs de Shopping: O P/VP atual em torno de 0,70 está bem distante do pico de 1,10 observado antes da pandemia
Estes dados mostram claramente que, mesmo após a alta recente, os FIIs continuam negociando com descontos significativos em relação aos seus valores patrimoniais. Em termos simples: estão comprando "na promoção" ativos que já estiveram muito mais caros no passado.
O duplo ganho potencial
Em FIIs, especialmente os de recebíveis, existe um fenômeno interessante: seu Valor Patrimonial (VP) é fortemente impactado pelas taxas de juros. Com a queda da taxa SELIC, não apenas as cotas tendem a se valorizar no mercado, mas o próprio VP dos fundos aumenta.
Quando a NTNB-2035 (título público utilizado como referência para precificação de ativos de longo prazo) negociava com juros de 3% no auge da valorização dos FIIs, o VP destes fundos era substancialmente mais alto.
Por exemplo: um fundo como o BCIA11, que tinha VP de R$146,40 no final de 2019, hoje está com VP de R$98,51. Considerando que o setor já negociou a 1,20x o VP (na média), apenas o retorno aos patamares históricos representaria um potencial de valorização significativo.
Mas há mais: uma eventual melhora da economia poderia elevar ainda mais o VP atual, criando um "duplo ganho" – valorização tanto pelo múltiplo (P/VP) quanto pelo aumento do próprio valor patrimonial.
Setores respondem diferentemente
É importante notar que nem todos os setores de FIIs respondem igualmente às mudanças macroeconômicas:
Setor de Lajes: Ainda enfrenta desafios para apresentar resultados que melhorem o otimismo sobre o futuro, mas tem maior potencial de valorização em cenário de recuperação econômica
Setor Logístico: Já conta com mais otimismo do mercado, sendo que seu potencial de ganho vem mais dos rendimentos e do carrego de longo prazo
FIIs de Recebíveis: Têm história mais recente (crescimento ocorreu após 2021), e podem se beneficiar tanto de eventuais pré-pagamentos de títulos quando os juros reduzirem quanto da valorização do VP
Estamos, portanto, muito longe dos topos históricos dos FIIs. O IFIX pode estar subindo, mas isso não significa automaticamente que os FIIs estejam caros – uma análise mais profunda dos indicadores fundamentais sugere exatamente o contrário.
O extraordinário valor da consistência
Lembre-se destes fatos sobre o S&P 500 desde 1980:
O índice apresentou retornos positivos em 32 dos 44 anos analisados
Mesmo nos anos positivos, o mercado experimentou quedas temporárias significativas
O S&P 500 caiu em média 14% em algum momento durante cada ano
No longo prazo, o índice multiplicou o capital dos investidores pacientes por mais de 140 vezes
A lição? As quedas são inevitáveis. Os períodos de euforia também. Ambos são parte natural do processo.
O que determina seu sucesso não é evitá-los (impossível), mas como você responde a eles. Para ter acesso ao ganho no longo prazo, você precisa se manter no jogo – tanto nos momentos de queda quanto nas altas exageradas.
O que seu plano de investimentos deve realmente considerar
A minha visão é que devemos continuar sendo racionais e fazer investimentos sem nos contaminar por visões otimistas ou pessimistas, sempre fazendo o comparativo objetivo com outras alternativas disponíveis.
Seu plano de investimentos não deve mudar com base em manchetes ou no humor do mercado. Ele deve ser fundamentado em:
Seus objetivos específicos – Quanto dinheiro você precisa e quando
Seu horizonte de tempo – Recursos para o curto, médio e longo prazo devem ser alocados diferentemente
Sua tolerância real a risco – Que não é algo fixo, mas varia conforme sua situação financeira e fase da vida
Sua situação fiscal particular – Como otimizar a tributação de seus investimentos
Quando o mercado está em pânico, como estava há seis meses, um bom plano te impede de vender no fundo. Quando o mercado está eufórico, como agora, esse mesmo plano te impede de comprar no topo ou de assumir riscos desproporcionais.
Como agir agora?
Se você já tem um plano estruturado de investimentos, mantenha-o. Faça apenas os rebalanceamentos necessários para manter as proporções planejadas entre as diferentes classes de ativos.
Se você não tem um plano, este é o momento ideal para desenvolver um – não baseado no humor atual do mercado, mas em seus objetivos reais.
Lembre-se: a pior decisão que você pode tomar é substituir seu plano por reações emocionais às manchetes do dia, sejam elas catastróficas ou eufóricas.
Como escrevi naquele artigo de novembro: "Controle suas emoções, não suas manchetes."
Tentar antecipar movimentos de mercado com base em notícias é como tentar adivinhar o clima daqui a 6 meses. Não funciona.
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Conclusão: Um ceticismo saudável sobre previsões
Como observa brilhantemente o professor Aswath Damodaran em seu livro "Narrative and Numbers", publicado pela Columbia Business School:
"Sou naturalmente atraído por números, mas uma das ironias de trabalhar com eles é que quanto mais os utilizo, mais cético me torno sobre argumentos puramente baseados em números. Em meu trabalho com dados financeiros, aprendi o quanto há de ruído nesses dados e como é difícil fazer previsões baseadas neles."
Damodaran continua com uma observação que deveria ser gravada na mesa de todo investidor:
"É preciso uma boa dose de arrogância da minha parte para acreditar que apenas porque coloquei um número em um processo ou variável, eu o controlo ou sequer o compreendo. Posso oferecer uma dúzia de diferentes medidas numéricas para risco, a maioria com excelentes pedigrees acadêmicos, mas diariamente luto para entender exatamente o que é risco e como ele nos afeta como investidores."
Esta é a essência do que tenho defendido: um modelo de investimento que não dependa de nossa capacidade de prever o imprevisível. Não porque as previsões não tenham valor, mas porque mesmo os melhores especialistas reconhecem os limites fundamentais desse exercício.
O mercado sempre encontra formas de se ajustar — e quem se mantém racional, seguindo um plano estruturado que não depende de previsões certeiras sobre o futuro, colhe os melhores frutos no longo prazo.
Bem vindo ao clube.
Isso não é uma recomendação de investimento, apenas uma análise de cenário. Se quiser ajuda para alcançar seus objetivos financeiros procure um dos nossos guardiões dos seus sonhos.
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